
Bali - Indonésia
Reencontrar um amor antigo e perceber, nos detalhes, porque é que ele um dia mexeu conosco? Sabemos que não tem volta, não queremos que tenha, mas há algo de familiar e íntimo na outra pessoa que nos faz recuar no tempo e perceber porque é que fez parte de um momento da nossa vida. No meu caso foi voltar a reparar no sorriso, naquela expressão que vi tantas vezes antes de dormir, no perfume que me arrastou para um verão passado, da mesma forma que a chuva me assinala a entrada da estação. Há nele algo de "típico", de próprio, de nosso. E talvez nunca deixe de existir. É quase como voltar a entrar numa casa onde já vivemos, onde já sentimos. Os detalhes estão lá, os nossos corpos e os nossos instintos conhecem-nos, mas, até por defesa própria, a nossa memória já os deixou para trás. Não deixa de ser uma rasteira, uma casca de banana, uma possibilidade. É uma redescoberta do que nos conquistou. No meu caso, neste caso, é só um reencontro com certa magia que já se foi e que já não quero que volte. E que não faz sentido voltar. Mas em outros casos, num caso apenas, torna-se difícil voltar "a sair de casa". É só rememorar, o conforto e a história dos detalhes. É aí o perigo: o amor volta a ser cego, para que os outros sentidos lhe dêem sentido...
2 comentários:
"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos,
a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca
e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta:
eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter
esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas
falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso
à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam,
e ao toque - a sede é a graça,
mas as águas são uma beleza de escuras -
e ao toque brilhava o brilho da água deles,
a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!..."
É como se possuísse a ciência exata de que o mistério me instiga e as palavras me encantam, não falo de qualquer palavra, mas destas pensadas, vividas e muito bem escritas. Provavelmente imaginavas que eu iria ler e reler várias vezes ao dia. Tentando descobrir de quem seria esse dom de cativar assim... Tenho uma forte tendência a apegar-me ao que é intenso, assim tuas palavras não são tão anônimas para mim. Tornou a minha memória um dia, há alguns dias, exclusivamente um, regado a álcool, amigos, risadas, e interrogações, em que "à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles...”.
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